Artigo apresentado no Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Fortaleza, CE – 3 a 7/9/2012
By Jaqueline da Costa Bueno
Este artigo promove uma reflexão sobre as questões que envolvem as comunidades virtuais
inseridas em quase todas as mídias digitais. Os encontros que se transformam do
ciberespaço para as comunidades nas praças, shoppings, festas reuniões sociais e
profissionais. Resgatando assim a ideia das antigas Ágoras gregas. Utilizou-se como ponto
de partida conceitos de comunidade, Identidade, quotidiano, cibersocialidade e tribos.
Distante da pretensão de contemplar todos os aspectos das comunidades existentes, o estudo
procurou contextualizar os encontros e as novas formas de relações sociais quotidianas
surgidas a partir da esfera da revolução tecnológica pós-moderna.
PALAVRAS-CHAVE: Comunidade; Tribos; Mídias Digitais.
Na perspectiva dos espaços de comunicação, seja nas praças ou nas redes, os
indivíduos vão compartilhando seus valores, suas afinidades e habilidades. Esse
movimento, junto às necessidades pessoais e profissionais, transforma-se num sistema de
trocas mútuas e integração vivencial. Segundo Santaella (2010, p.67) “essas redes se
caracterizam por uma atuação predominantemente focada em redes de relacionamentos
pessoais familiares, de amizade e/ou profissionais”. Por isso, entendemos que também as
relações afetivas em qualquer comunidade virtual merecem atenção especial, pois são
valiosas para entendermos os processos de criação e inovação da cultura contemporânea.
Com base nessas observações, iniciamos este trabalho nos questionando sobre o que
circula de forma mais complexa nesse Ciberespaço3
, quais são os valores, qualidades, ações
e reações, comportamentos e rotinas que povoam tais ambientes?
É fácil perceber a presença do prefixo cyber ou ciber, está em quase tudo o que é
tecnológico: cyber punk, ciber-sexo, ciberespaço, etc. Cada expressão forma, com suas
particularidades, o conjunto da cibercultura. Na visão do filósofo da informação Pierre
Lévy (1999) é como um conjunto de técnicas, de práticas, de atitudes, de modos de
pensamento e de valores que se desenvolvem ao mesmo tempo no ciberespaço. Esses
valores ensejam um novo olhar, menos técnico, menos superficial, mais subjetivo, mais
complexo e mais relacional.
A cibercultura, para Levy (1999), inaugura um novo meio de comunicação,
resultante da interconexão mundial dos computadores. Não se limita apenas à infraestrutura
material da comunicação digital, mas contempla todo o universo da informação que é
possível agregar. Incluindo aquelas geradas pelos seres humanos que navegam e alimentam
esse universo. Isso também acontece na relação entre as redes de computadores e o
ciberespaço. O autor descreve este movimento social como uma “prática de comunicação
interativa, recíproca, comunitária e intercomunitária [...] no qual cada ser humano pode
contribuir” (Lévy, 1999 p.92).
O ciberespaço não cerceia a participação de quem quer que seja. Não há limites de
idade, gênero ou crença para participar e interagir com os demais membros do grupo. Ele
proporciona autonomia e liberdade aos indivíduos para criarem avatares, fantasiarem
livremente, inventarem e representarem encenações de si mesmo e dos que com eles
interagem. O intercâmbio de informações torna o espaço mais relevante à medida que ele
vai se constituindo numa série de interconexões ou “nós” como aponta o professor Dr. Luiz
Carlos Iasbeck (1997).
O espaço físico paulatinamente se amplia e se amplifica, reconfigurando-se com
novas e mais complexas características. A interação em rede aumenta de modomultiplanear, o ambiente da comunicação, tornando os espaços de troca mais densos e
desafiadores àqueles que dele participam. Não é por outro motivo que tantos se sentem
atraídos pela conversação nas comunidades virtuais. A pesquisadora da área de Ciências
Humanas e Sociais, Raquel Recuero (2009, p.27) explana sobre a necessidade de existir no
ciberespaço. “É preciso constituir-se parte dessa sociedade em rede, apropriando-se do
ciberespaço e constituindo um “eu” ali”.
De maneira conflitual e harmoniosa ao mesmo tempo, esses estilos de vida se põem
e opõem uns aos outros no cotidiano, e o que delimita esse novo “espírito do tempo”, é a
socialidade:
A socialidade, ou o cotidiano que ela exprime, está totalmente centrada no
presente.
A ESPACIALIDADE é o tempo em retardo, é o tempo que tentamos
frear e daí a importância da ritualização na vida do dia-a-dia...
(MAFFESOLI, 2006, p.57, grifo nosso).
Contudo, essa “socialidade” centrada no tempo presente, no “online”, muitas vezes
não é satisfatória por si só. Partimos do pressuposto de que a “falsa” satisfação de
necessidades dos indivíduos é uma construção imaginária, inventada, conforme define
Castoriadis:
[...] Quer se trate de uma invenção “absoluta” (“uma história imaginada em
todas as suas partes”), ou de um deslizamento, de um deslocamento de
sentido, onde símbolos já disponíveis são investidos de outras significações
que não suas significações “normais” ou “canônicas”.
Nos dois casos, é
evidente que o imaginário se separa do real, que pretende colocar-se em seu
lugar. (CASTORIADIS, 1995, p.154).
Essa construção imaginária está presente nas comunidades virtuais e nos
relacionamentos interpessoais intermediados pelo computador. Proporcionando assim,
relevância aos encontros pessoais. De um mero comportamento humano, os
relacionamentos passam a compor sistemas integrativos com consequências sociais,
políticas e econômicas, portanto, vitais para as sociedades contemporâneas.
1. Agora é a vez dos encontros nas “Ágoras”
O “lugar” dos encontros comunicacionais (das interações comunicativas) é o
ambiente em que todos participam e no qual todos os assuntos podem frequentar. Segundo
Iasbeck (2001) os seres humanos são complexos, necessitam se comunicar para espantar a
opressão da solidão e por isso interagem continuamente. Não importa o quanto e em que
direção a tecnologia evolua, essa característica dificilmente se alterará, pois:
A comunicação é esse processo em que imagens, representações são
produzidas, trocadas, atualizadas no bojo de relações, esse processo em que
sujeitos interlocutores produzem, se apropriam e atualizam permanentemente
os sentidos que moldam seu mundo e, em última instância, o próprio mundo.
(FRANÇA, 2004, p.23).
Os espaços já consagrados de encontro e informalidade são frequentados fielmente e
não têm perdido espaços para o mundo digital: no cafezinho, no almoço e no jantar; nos
corredores, nas praças e nos bares, no happy hour com os colegas, nas festinhas e nas
confraternizações rituais. Nestes ambientes físicos, as pessoas deixam fluir espontaneidade
como forma de descompressão às constrições dos ambientes virtuais. E não é demais
lembrar que, tal como os meios tradicionais de comunicação, “os computadores são as
extensões do nosso cérebro, do nosso corpo” (McLuhan. - 1969 p.38), portanto a presença
deles nestes ambientes é imprescindível.
O lugar e o encontro presencial são elementos novos na sociabilização da
cibercultura, estes elementos são mais ligados ao mundo pré-internet e que agora são
potencializados e amplificados. Entretanto essa ampliação insere-se dos sistemas de
localização geográfica em uma grande quantidade de dispositivos, a “ligação” dos espaços
físicos e virtuais se eleva a outra dimensão. A informação constante das coordenadas
geográficas realiza uma conexão constante entre a posição física do indivíduo e
informações no ciberespaço. Isso desencadeia uma grande quantidade de relações inéditas
aos sistemas comunicacionais já existentes e a criação de outros.
Outro dado relevante é a informação do local físico onde a pessoa está que também
pode liberar, em muitos casos, todas as outras informações como sexo, idade e aparênciasestéticas, que ainda possuíam certa proteção na rede. Contudo estes dados ajudam a
promover os encontros fora da rede:
Ao mesmo tempo, tal amontoado apresenta sutis diferenciações, e as
preferências quanto às roupas, ou quanto aos hábitos sexuais, aos esportes, aos
bandos e aos próprios lugares não deixam de dividir o território, recriando,
assim, um conjunto comunitário com funções diversificadas e
complementares. (MAFFESOLI, 2006 p. 168).
Estas evidências somadas a várias outras que começam a se desdobrar são baseadas
em uma das fronteiras intocadas no ciberespaço que é a localização física. Assim como
outras informações do âmbito privado que se tornam públicas sem a nítida percepção do
individuo, este novo dado pode ser ainda mais complexo do ponto de vista da privacidade,
pois o que se faz nas comunidades virtuais reflete claramente na vida social de cada
indivíduo.
O apego pela comunidade está diretamente ligado a perda da liberdade, esse
processo acaba gerando uns dos dilemas mais significativos para compreensão das
comunidades virtuais da contemporaneidade.
Paradoxalmente, almejamos e resistimos à segurança coletiva, em prol da liberdade
individual. Segundo Bauman (2003), a ideia de comunidade foi destruída, a de
comunitarismo como “pertencer a” continua um processo em nossa sociedade que estaria
orientado, segundo o autor, nas duas formas de autoridades possíveis no mundo
contemporâneo: a autoridade dos especialistas e a autoridade numérica.
Essa autoridade dos especialistas, por sua vez, é geralmente a classe que tem acesso
aos bens culturais.
E a autoridade numérica uma categorização econômica que já não dá
mais conta de explicar a realidade, procura estabelecer marcos explicativos que deem conta
da multiplicidade dos entes sociais. Essas grandes massas, resultantes da desarticulação de
sua organização em termos de comunidade, inventaram historicamente como substituição o
conceito de “identidade”, em que o pressuposto de “ser diferente” acaba gerando um
processo de distanciamento, separação e divisão cada vez maior entre as pessoas, causando
assim, a criação dos grupos seletos de pessoas dentro de uma sociedade.
Entretanto, a separação das pessoas nas comunidades cercadas e controladas
eletronicamente é antítese da desindividualização.
Hipoteticamente não se pode viver só nas redes, daí a importância das comunidades virtuais se multiplicarem e se juntarem ainda
mais, com a finalidade de tentar resgatar os “encontros” onde são estabelecidas as relações
afetivas no espaço físico.
É fato que existem as novas elites nas comunidades seletas, grupos de pessoas que
se enclausuram em seus próprios mundos, egoísmo e individualismo são as palavras que
classificam essas comunidades.
Bauman (2003) nos fala do “cosmopolitismo
individualista”:
O estilo de vida ‘cosmopolita’ dos novos atores em secessão não foi feito para
imitação das massas, e os ‘cosmopolitas’ não são apóstolos de um modelo
novo e melhor de vida, nem são a vanguarda de um exército em marcha.
(BAUMAN, 2003 p. 54).
Para Bauman (2003) o individualismo “cosmopolita” é diagnóstico da realidade
convincente e seus efeitos perversos são perceptíveis em nosso quotidiano. Questiona
ainda: se podemos (em termos teóricos e práticos) e se devemos (em termos ético-morais)
reconstruir a ideia de comunidade no sentido do compartilhamento das coisas comuns,
residindo aqui, talvez, o principal desafio destas reflexões teóricas neste texto, ou seja, a
implementação prática do mesmo.
2. Individuais coletivos
Destacamos o resgate aos “encontros” pessoais e na “desindividualização” das
comunidades, ou seja, os grupos das comunidades virtuais. Em linhas gerais, os grupos
caracterizam-se pelo confinamento espacial ou neste caso virtual, combinado com a ideia de
fechamento social, ou seja, a construção de uma homogeneidade dos “de dentro” e de uma
heterogeneidade dos “de fora”.
A comunidade dos “de dentro”, isto é, a “comunidade virtual”, sugere uma ideia
falsa de liberdade, segurança, tranquilidade e uma série de sentimentos positivos. Porém
essas novas formas urbanas, criadas a partir de ambientes renovados estão se modificando
aos poucos. Ainda imperceptíveis às pessoas, pois o que se tem hoje, através do
desenvolvimento e utilização das aplicações geradas nas comunidades virtuais é uma intensificação das interações “online” que Castells (2003) designa de “hipersociabilidade”.
No sentido hiper, os utilizadores redescobrem as potencialidades das comunidades
suportadas pelo interesse comum, procurando intensivamente restabelecer os laços e
relações perdidas.
Castells (2003) discute que “uma rede é um conjunto de nós interconectados”. A
formação em redes é uma prática humana muito antiga, mas as redes ganharam vida nova
em nosso tempo transformando-se em redes de informação energizadas pela Internet. Com
essa concepção, a flexibilidade é mencionada por Castells como uma forte vantagem das
redes, enquanto ferramentas de organização das comunidades. Nesse contexto, segundo o
autor, a Internet tornou-se a principal ferramenta para uma nova sociedade, “a sociedade em
rede”, impulsionando a criação de uma nova economia e quebrando antigos paradigmas da
comunicação.
Sendo assim, a Internet é um meio de comunicação que permite, pela
primeira vez, a comunicação de muitos com muitos, num momento escolhido, em escala
global.
Há aqueles que defendem que estamos em um processo de democratização, porém
as facilidades dos encontros virtuais e a troca de informações nas redes só se concretizarão
como democracia, quando o acesso à tecnologia for realmente democrático. Enquanto a
exclusão de alguns grupos sociais existirem, teremos as desigualdades nos grupos que em
um dado momento podem ser a elite e em outro os “desprivilegiados”, pois:
A influência das redes baseadas na Internet vai além do número de seus
usuários: diz respeito também à qualidade do uso. Atividades econômicas,
sociais, políticas e culturais por todo o planeta estão sendo estruturadas pela
Internet e em torno dela, como por outras redes de computadores. De fato, ser
excluído dessas redes é sofrer uma das formas mais danosas de exclusão em
nossa economia e em nossa cultura. (CASTELLS, 2003, p.8).
Entretanto vimos que as comunidades virtuais por si só, não trazem apenas
benefícios, mas também gera conflitos e tensões causadas pela abstinência virtual. Há
autores que comparam a desigualdade social no acesso e domínio da tecnologia, com a
desigualdade do acesso à leitura e escrita nos tempos antigos.
Antigamente, apenas os
“escribas” e uma pequena minoria dominavam a leitura e a escrita. Assim somente eles
tinham acesso aos livros e obras, dominando e centralizando o conhecimento, enquanto a
grande maioria da população possuía apenas o conhecimento da comunicação oral passadade pais para filhos. Hoje, apesar da rápida expansão da informática, enormes contingentes
da população mundial não têm acesso a tais tecnologias.
Se conectadas ao mundo através de comunidades diversificadas, constroem a partir
delas, experiências individuais mais profundas. Partilhando-as com os demais membros e
contribuindo para um aumento da qualidade da experiência e melhoria das relações.
Citamos as redes sociais como exemplo. Nesta lógica construtiva, o conhecimento e
informação emanados dos contatos entre membros seriam responsáveis pela construção do
conhecimento coletivo nos espaços virtuais.
Segundo Bruns (2008) “Há muitas pessoas nestes espaços procurando segurança na
coletividade, por isso, estabelecem outro espaço da invenção coletiva”.
Sabem que a
competição é impossível, prevenindo assim desgastes, procuram se aglomerar todos juntos.
Contudo nestas aglomerações quotidianas a alta tecnologia está presente, o que vem
fazendo que se exponham cada vez mais, refletindo no seu convívio social. A internet por
sua vez interliga em todos os lugares, causando um efeito de onipresença, isto é, significa
que a possibilidade de se está em vários lugares ao mesmo tempo dá uma sensação de
autonomia e poder absoluto de si e dos outros.
Com esse efeito onipresente, não há separação da casa e do trabalho, as pessoas não
precisam morar nas grandes cidades para se manterem informadas, isso é facilmente
conseguido com as novas tecnologias. Por outro lado, temos o impacto negativo, as pessoas
deixam de ter um convívio social sólido. Como exemplo, nas relações afetivas que é
essencial, mesmo que, como defende Maffesoli (2006):
Seja apenas para apreciar suas novas orientações (ou reorientações), retornar à
forma pura que é o estar - junto à toa.
Com efeito, isso pode servir de pano
de fundo, de elemento revelador para os novos modos de vida que renascem
sob nossos olhos. Nova rodada do jogo que diz respeito à economia sexual, à
relação com o trabalho, à repartição da palavra, ao tempo livre, à solidariedade
nos reagrupamentos de base. (MAFFESOLI, 2006 p. 141, grifo nosso)
Segundo o autor a sociedade assim compreendida, não se resume em uma
mecanicidade racional qualquer. Ela vive e se organiza, no sentido estrito do termo, através
dos reencontros, das situações, das experiências no seio dos diversos grupos a que pertence cada indivíduo.
O autor enfatiza, é uma sociedade estruturada através da conectividade
generalizada, que se preocupa apenas com o presente vivido coletivamente. É preciso
atentar sobre os impactos causados na família dentre eles, pode-se destacar a ameaça de
valores, onde o computador acaba tirando um pouco do convívio em família. A internet, por
exemplo, possui informações maléficas, que muitas vezes as crianças acabam tendo acesso,
“mundo animal” e grotesco o qual todos acessam e são cúmplices dessa vida e de suas
ações nela.
Ainda segundo Maffesoli, 2006 p.154:
Talvez não devêssemos ter medo de dizer, com uma vida um tanto animal. Eis
aí o que nos lembra a lógica das redes que está se impondo nas massas
contemporâneas.
A impessoalização, melhor seria dizer a desinvidualização,
assim induzida é, aliás, perceptível no fato de que cada vez mais as situações
são analisadas a partir da noção de atmosfera. (MAFFESOLI, 2006 p.154)
Essa noção de atmosfera que Maffesoli (2006) nos fala pode ser aquela que nos
impulsiona a adquirir um aparelho eletrônico de última geração sem necessitá-lo. As
pessoas adquirem novas tecnologias sem, no entanto, ter uma aplicação para elas, as
chamadas futilidades, isso acontece às vezes pela pressão do próprio mercado ou
simplesmente para manter uma imagem perante a sociedade, o “status”.
É notável como
está presente na vida e no quotidiano das pessoas, o vínculo de dependência com a
tecnologia onde a privacidade pode ser facilmente invadida.
Eis que vivenciamos na era digital, uma nova atualização das formas tradicionais de
encontros e socializações bem como decisões sócio-políticas. É nesse contexto em que se
ampliam as formas desses “encontros” nas praças, nos shoppings, nas festas, enfim, nos
lugares públicos. Então, os protagonistas dessa nova modalidade são as redes, aliadas a um
ingrediente fundamental que são a significação e ressignificação da realidade.
3. As observações empíricas
A possibilidade dos encontros coletivos envolvendo as comunidades virtuais pode
estar subitamente vinculada aos lugares. À medida que redes Wi-Fi4
começaram a
transportar a Internet de cubículos para encontros nos espaços públicos, como livrarias,
cafés, parques e praças, estes começaram a se transformar. A Internet começou a ser
acessada em Iphones, Ipads e outros dispositivos com acessos a rede. Contudo podemos
afirmar hipoteticamente que a tecnologia wireless5
está trazendo de volta este público para
fora das casas, em um movimento cíclico.
Esse movimento “geográfico e de recompensa”, como aponta Maffesoli (2006) neste
contexto, faz com que os indivíduos se comuniquem de onde estiverem e troquem
informações das suas posições. Em seguida há possibilidades de “encontros” em algum
lugar público como um Shopping Center ou uma festa Cosplay6
, por exemplo. Portanto, as
redes desempenhariam um papel estratégico, enquanto elemento organizativo, articulador,
informativo e de “atribuição de poder” de coletivos e de movimentos sociais no seio da
sociedade civil e na sua relação com outros poderes instituídos (Scherer – Warren, 2006, p.
222).
Com a consolidação da sociedade em rede, também como uma esfera pública
planetária, esse potencial pode ser expresso como um grande modelo para a consolidação
de soluções compartilhadas diante de questões complexas, a partir da interação multiétnica,
multinacional e multicultural. Nesse sentido, há muitos exemplos concretos de grandes redes sociais construídas
no plano virtual que não somente obtiveram grande alcance global, como se materializaram
no mundo real, como a divulgação de manifestos e articulação de protestos em várias partes
do mundo através de redes que envolvem os grupos e organizações políticas e civis.
Considerações Finais
Os encontros presenciais podem não ser as soluções para os problemas da
socialização na cultura contemporânea. Pois, como qualquer outro meio de encontro, seja
ele virtual ou presencial, apresenta qualidades e problemas. A tão ‘querida’ harmonia e
liberdade podem ser tanto positivas quanto negativas. Tanto nas comunidades virtuais
quanto nas presenciais podem proporcionar amizades duradouras, tolerância e até amor.
Os
indivíduos se comunicam de onde estiverem e trocam sua angustias, seus prazeres e seu
sucesso. Embora o que se vê atualmente, é que essa troca virtual não satisfaz por completo
as comunidades, há um rompimento dessas barreiras eletrônicas, as pessoas quebram as
muralhas trazendo esses “encontros” que outrora era somente virtual, e agora é
imprescindível que sejam em espaços físicos aqui denominados de “ágoras”.
Esses espaços físicos a que chamamos de praças como as Ágoras Gregas são
resgatados pelas comunidades virtuais, citamos como exemplo os locais desses “encontros”
Shopping Centers, praças, parques, bares e festas, onde as pessoas carentes podem
encontrar suporte emocional e respostas para suas angústias, pessoas tímidas podem
engajar-se em frutíferas conversações e desenvolver fortes relações.
A sociedade ‘fluida e
líquida’ que Bauman (2003) relata não aguenta mais o confinamento no mundo virtual e
querem relações “fora das redes”, mesmo fluidas e líquidas, mas que sejam no mundo real.
Por fim, é um fenômeno social ainda recente que parte das comunidades virtuais
para as comunidades das praças, resgatando a ideia das Ágoras gregas e que apresenta
inúmeros desafios. Exige-se um novo olhar diante das múltiplas possibilidades de pesquisa,
desconstruindo os pressupostos convencionais de investigação e construindo novas visões
sobre os novos fenômenos como sendo um acréscimo às possibilidades interativas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABDEL-MONEIM, Sarah Grussing. O Ciborgue Zapatista: tecendo a poética virtual de
resistência no Chiapas cibernético. Rev. Estud. Fem., Jan 2002, vol.10, no.1, p.39-64. ISSN 0104-
026X
ALMEIDA, Vanessa Macedo da Silva, A Marcha das Vadias e os efeitos da era digital na
atuação política. 2011. Disponível em:
. Acesso em 15 de junho
de 2012.
BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro, Editora
Jorge Zahar, 2004.
_____, Zygmunt. Comunidade – A busca por segurança no mundo atual. 1ª Edição. 2003. Rio de
Janeiro: ZAHAR Editora
_____, Zygmunt. Modernidade líquida. Jorge Zahar. Rio de Janeiro. 2001.
BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2003.
BHOM, David. Diálogo: comunicação e redes de convivência. São Paulo: Palas Athena, 2002.
BRUNS, Axel. Blogs, Wikipedia, Second life, and Beyond : from production to produsage.
New York: Peter Lang, 2008.
CASTELLS, Manuel. A era da intercomunicação. Le Monde, (24), 2006.
_____, Manuel. O poder da identidade. A era da informação: economia, sociedade e cultura.
Volume II. Tradução: Alexandra Lemos. Lisboa: Editora Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.
_____, Manuel. A sociedade em rede. Vol. 1. 7 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
_____, A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de
Janeiro:Jorge Zahar, 2003.
CASTORIADIS, Cornelius. A instituição imaginária da sociedade. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1995.
ESTADO DE SÃO PAULO. Caderno Tecnologia. São Paulo: 2003. Disponível em:
.
Acesso em 19 de junho de 2012.
FACEBOOK. Marcha das Vadias de Brasília. Disponível em:
. Acesso em 27 de junho de 2012.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 2ª edição,
1987.
FLICKR. Rede social de hospedagem e compartilhamento de imagens. Disponível em:
. Acesso em 28 de Junho de 2012. FRANÇA, Vera Regina Veiga. Representações, mediações e práticas comunicativas in
Comunicação, representação e Práticas (PEREIRA, Miguel, GOMES, Renato Cordeiro e
FRANÇA, Vera L. F. de Figueiredo). Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; Aparecida / SP, Ed. Idéias &
Letras, 2004.
FREIRE, Geovana Maria Cartaxo de Arruda. Ciberespaço e Smart Mobs: a resignificação de
lugares e construção da cidadania planetária. Disponível em:
. Acesso em 15 de junho de 2012.
GATES, Bill. A estrada do futuro. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
IASBECK, L. C. A. A Administração da identidade - Um estudo semiótico da comunicação e
da cultura nas Organizações. 1997. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica), Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP. São Paulo. 1997
IASBECK, L. C. A. ; PRATES, E. ; LOPES, P. E. ; PORTO, Sérgio Dayrell. Semiótica, método
lógico para o estudo da Comunicação. Galáxia (PUCSP), São Paulo, v. 01, p. 129-157, 2001.
JESUS, Jaqueline Gomes de. 2012. O movimento na rua: política e identidade nas dimensões de
gênero, orientação sexual e raça/etnia. Disponível em:
. Acesso em 15 de junho de 2012.
KIST, Éverton Bohn. MORAES, Ana Luiza Coiro. 2009. Flash Mobs, Movimentos que
transcendem o Ciberespaço: Uma ferramenta alternativa de Comunicação. Disponível em: <
http://www.portcom.intercom.org.br/ojs-2.3.1-2/index.php/iniciacom/article/view/661>. Acesso em
15 de junho de 2012.
KWAN, Raymond. 2011. Don’t dress like a slut: Toronto cop,. Excalibur. Disponível em:
. Acesso em 27 de junho de 2012.
MAFFESOLI, Michel. A conquista do presente. Rio de Janeiro: Rocco, 1984
_____, Michel. O tempo das tribos: O declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2000.
_____, Michel. A vida quotidiana. In: Cyber Socialidade, tecnologia e vida social na cultura
contemporânea 2006.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio
de Janeiro: Editora UFRJ, 1997.
MAZENOTTI, Priscilla. 2011. Mais de 800 pessoas participam de marcha para reivindicar
igualdade de gênero. Agência Brasil. Disponível em . Acesso
em 27 de junho de 2012.
MCLUHAN. Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo:
Cultrix.1989.
MEYROWITS, Joshua. 2001. As múltiplas alfabetizações Midiáticas. Disponível em:
. Acesso em 28
de junho de 2012.
MUMFORD, Lewis. A Cidade na História. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999
_____, Pierre. A Conexão Planetária: o mercado, o ciberespaço, a consciência. São Paulo: Editora
34, 2001.
PERUZZOLO, A. C. A Comunicação como Encontro. EDUSC, Bauru: 2006
PRUDENCIO, Kelly Cristina de Souza. Mídia ativista: a comunicação dos movimentos por
justiça global na Internet. Dissertação de mestrado: PPGSP, 2006.
TEIXEIRA, Viviani Corrêa. 2007. A contribuição da Internet para os movimentos sociais e
redes de movimentos sociais e o caso do Movimento Internacional Pela Adoção ao Software
Livre. Disponível em: < http://www.sociologia.ufsc.br/npms/viviani_teixeira.pdf>. Acesso em 15
de junho de 2012.
RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.
SANTAELLA, Lúcia. Redes sociais digitais: a cognição do Twitter. São Paulo: Paulus, 2010.
SASSAKI, Raphael. 2011. Marcha das Vadias leva 300 pessoas para a av. Paulista. Folha de
São Paulo. Disponível em: . Acesso em 27 de junho de 2012.
SCHERER-WARREN, Ilse, Das Moblizações às Redes de Movimentos Sociais. 2006.
Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/se/v21n1/v21n1a07.pdf>. Acesso em: 15 de junho de
2012.
WWF BRASIL, 2009. Disponível em: . Acesso em 20 de
junho de 2012.
WWF AUSTRÁLIA, 2009. Disponível em: . Acesso em 20 de
junho de 2012.